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  • Foto do escritorJoao Guilherme Castro

Projeto Lente Quente organiza exposição de fotos da ditadura argentina

As fotos são do fotojornalista Tui Guedes que cobriu durante três anos as manifestações na Argentina

 

Foto: João Guilherme Castro


*“Quero saber como se vê o mundo

Me esqueci de sua forma

De sua boca insaciável

De suas mãos destruidoras

Me esqueci da noite e do dia

Me esqueci das ruas percorridas

(…)

E estou, apesar de tudo isso

Apesar de não acreditar

Estou juntando algumas palavras

Algumas infiéis palavras

Que me deixem lembrar

Como poderia ver o mundo”

O poema de Ana María Ponce deu início à exposição “¡Ni olvido, ni perdón!” (“nem esquecimento, nem perdão”, em espanhol) na noite da quinta-feira, dia 13/9. Organizada pelo projeto de extensão Lente Quente em parceira com o Centro Europeu e com apoio da produtora cultural Mano a Mano Projetos, a exposição traz 30 quadros do fotógrafo Tui Guedes, que durante três anos registrou as manifestações na Argentina em memória dos desaparecidos políticos durante a ditadura militar do país vizinho, de 1976 a 1983. Guedes é brasileiro, mas radicado há 10 anos em Córdoba, no norte argentino, e buscou preservar a memória dos parentes dos desaparecidos. Segundo Schirley Brito, diretora executiva da exposição e da Mano a Mano, a intenção da mostra é a documentação e um pouco de história do ‘não esquecer da Argentina’. “O povo argentino conseguiu não se reduzir apenas à dor que se sente, mas ganhou força para que a história pudesse contar coisas melhores das que a gente já viu. Em função disso, eles criaram centros de memória para não esquecer o que aconteceu”, aponta.


Para Júnior Leônidas, coordenador do curso de fotografia do Centro Europeu, a exposição traz o conhecimento de uma cultura não tão diferente da brasileira. “Apresentar a exposição não só pros alunos, mas para todo mundo que participa de um evento como esse, é muito importante. Essa troca de informações, adquirir cultura de lugares não tão diferentes da gente, é de extrema importância”, frisa.


O jornalista Rafael Schoenherr, professor universitário e coordenador do projeto Lente Quente, conta que é imprescindível abrir o leque de parcerias para aumentar as ações do grupo. “É a primeira vez que a gente tem a oportunidade de expandir a ação do projeto para uma parceria internacional e isso abre possibilidade de novas interações, tanto de lá pra cá, quanto daqui pra lá”, diz.


Trazer ao Brasil uma exposição que mostra que na Argentina a população cobra do governo o paradeiro dos desaparecidos mostra que, aqui no aqui no Brasil, ainda existe um medo de se conversar e debater sobre isso. “A gente ainda sente que tem que romper uma membrana de silêncio sobre esse tema mesmo passado tanto tempo, mas prova que mesmo o contexto vindo de outro país, nos une por uma realidade latino-americana e que ainda precisa de visibilidade”, argumenta Schoenherr. O fotógrafo Tui Guedes não pôde estar presente na cerimônia, mas mandou um recado aos ouvintes por meio de um vídeo exibido na abertura. Na mensagem, ele afirmou que todos têm o direito e o dever de manifestar-se.


Para o jornalista André Bida, a exposição traz um valor cultural muito grande, já que vivemos no Brasil um período de desvalorização da cultura e da arte. “Vemos queimar literalmente nossa história, como é o caso do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Na Argentina, que está ao nosso lado, revela-se a preocupação do governo e a consciência de manter salva essa memória, por mais cruel e triste que tenha sido na época”, relata.


“¡Ni olvido, ni perdón!” apresenta 30 quadros de fotografia, vídeos e também alguns materiais impressos como livros e também folhetos. Antes de chegar ao Brasil, a exposição passou pela curadoria de Ana Gerchunoff, diretora de imprensa do Ministério de Justiça e Direitos Humanos da Província de Cŕodoba. “Estamos trabalhando com uma exposição que já tem uma curadora, e temos que respeitar o olhar dessa curadoria profissional que já selecionou as fotos. Elas não têm legendas, nem uma organização prévia e isso foi um aprendizado em termos de narrativa e de conjunto fotográfico. É diferente de montar a própria exposição” comenta Schoenherr.


O Lente Quente pretende ainda levar a exposição a colégios de Ponta Grossa a fim de apresentar aos estudantes o olhar das manifestações argentinas. “Temos que mudar a narrativa para poder debater com os estudantes”, finaliza Schoenherr.

*Tradução livre de Lucas Cabral.

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